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domingo, 21 de setembro de 2014

Alvarenga e Ranchinho

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Murilo Alvarenga nasceu em Itaúna, no estado de Minas Gerais, no dia 22 de maio de 1912 e faleceu em 18 de janeiro de 1978. Diésis dos Anjos Gaia, o Ranchinho, nasceu em Jacareí, no estado de São Paulo, no dia 23 de maio de 1913 e faleceu no dia 05 de julho de 1991.
Alvarenga foi apenas um e que, no entanto, por força das circunstâncias, acabou fazendo dupla com três parceiros por nome "Ranchinho".
O primeiro Ranchinho, portanto, foi Diésis dos Anjos Gaia, que cantou com Alvarenga de 1933 a 1938, retornando no ano seguinte e que, após outros sumiços, abandonou a dupla em 1965.
O segundo Ranchinho foi Delamare Abreu (nascido em São Paulo/SP no dia 28 de outubro de 1920), irmão de Murilo Alvarenga por parte de mãe, e que fez dupla com ele por dois meses na década de 50. Delamare mais tarde deixou o palco e passou a ser pastor protestante.
E o terceiro Ranchinho, que foi quem ficou mais tempo ao lado de Murilo, foi Homero de Souza Campos (1930-1997), conhecido também como "Ranchinho da Viola" e como "Ranchinho II" (apesar de ter sido o terceiro). Homero cantou com Murilo Alvarenga de 1965 até o seu falecimento em 1978.
O "Ranchinho da Viola" foi o mesmo Homero que também integrou o "Trio Mineiro", juntamente com Bolinha e Cosmorama e que chegou a gravar 12 discos de 78 rpm. E, com Alvarenga, Homero gravou 15 discos, entre 78 rpm e LPs.
Murilo e Diesis conheceram-se no início da década de 30 na cidade de Santos/SP. Murilo, após o falecimento de sua mãe, morava no Brás, em São Paulo/SP com seus tios; ele era trapezista e também cantava tangos. Diésis cantava músicas românticas na Rádio Clube de Santos, que havia sido inaugurada pouco tempo antes (em 1927). "Rancho Fundo" (Ary Barroso e Lamartine Babo) era uma das músicas preferidas e mais freqüentemente interpretadas por Diésis que, em função disso, começou a ser anunciado como "Rancho".
O primeiro encontro se deu numa serenata. E, como era baixinho, Diésis aproveitou o apelido e o modificou para Ranchinho, quando da formação da dupla com Murilo que, por sua vez, aproveitou o próprio sobrenome: "Alvarenga e Ranchinho" passaram então a cantar a duas vozes em circos interpretando de início um "repertório sério" formado por valsas, modinhas, tangos e chorinhos.
O mais engraçado é que a platéia ria quando Alvarenga e Ranchinho cantavam... E, tirando partido da situação, eles passaram a incluir piadas entre uma música e outra, da mesma forma como também faziam Jararaca e Ratinho no Rio de Janeiro/RJ.
A dupla iniciou-se efetivamente em 1933, trabalhando no Circo Pinheiro em Santos. Algum tempo depois, seguiram para a capital paulista, onde eles passaram a se apresentar também em outros circos.
Devido às paródias que compunham satirizando diversos políticos, sofreram perseguições. Após animados shows contando estórias, fazendo esquetes humorísticos e cantando suas composições, muitas vezes acabavam "passando a noite no xadrez".
No mesmo ano, apresentaram-se na Companhia Bataclã na capital paulista. Também fizeram parte do elenco da companhia Trololó, juntamente com o renomado comediante Sebastião Arruda, no Teatro Recreio, na Praça da Sé, na capital paulista. É importante destacar também que Sebastião Arruda havia criado no teatro o "personagem clássico caipira" que já passava a ter também a voz ouvida no disco, já que o Ator Arruda também havia se juntado à Turma de Cornélio Pires quando das primeiras gravações de Modas de Viola e "Causos" interpretados pelo Tibúrcio e sua Turma Caipira no final da década de 20 e início da década de 30.
Em 1934, a convite do Maestro Breno Rossi, passaram a trabalhar na Rádio São Paulo, recém-inaugurada. E, quando a Companhia "Casa de Caboclo" do Rio de Janeiro se apresentou em São Paulo, Breno Rossi, que havia sido o pianista convidado para o evento, incentivou a ida de Alvarenga e Ranchinho para um período bem sucedido no Rio de Janeiro, em 1936, com apresentações inclusive no Cassino da Urca.
Lembrar que a "Casa de Caboclo" foi fundada no final de 1931 por Jararaca e Ratinho, juntamente com Duque, Pixinguinha e Dercy Gonçalves.
Em 1935, Alvarenga e Ranchinho formaram com Silvino Neto o trio "Os Mosqueteiros da Garoa", que teve curta duração. No mesmo ano, venceram o concurso de músicas carnavalescas de São Paulo com a marcha "Sai, Feia", de Alvarenga, que foi inclusive gravada por Raul Torres.
Ainda no mesmo ano, trabalharam também no filme "Fazendo Fita" de Vittorio Capellaro, a convite do Capitão Furtado. Ariowaldo Pires, o Capitão Furtado, que era Compositor, Locutor de Rádio, Produtor Caipira e sobrinho de Cornélio Pires, viu Murilo e Diésis passeando com seus instrumentos musicais e, abordando-os, perguntou se eles eram Violeiros, se cantavam no estilo de "Mariano e Caçula" e se queriam participar de um filme?
Espertos como eles só, responderam "sim" a todas as perguntas, para não deixar passar a oportunidade e, no elenco de "Fazendo Fita", Alvarenga e Ranchinho substituíram Mariano e Caçula que era a dupla inicialmente convidada, mas que havia desistido da participação em virtude do atraso das filmagens.
E, em 1936, rumaram para o Rio de Janeiro, onde se apresentaram na Casa de Caboclo, incentivados pelo maestro e pianista Breno Rossi. Começaram a se apresentar na Rádio Tupi no programa "Hora do Guri". E, naquele mesmo ano, gravaram o primeiro disco pela Odeon com as músicas "Itália e Abissínia" e o cateretê "Liga das Nações".
E o sucesso ia crescendo. Apenas três anos de dupla formada e Alvarenga e Ranchinho eram cômicos, atores de cinema e... dupla caipira, "sem nem mesmo terem nascido na roça". E Assis Chateaubriand, ouvindo a dupla, contratou Alverenga, Ranchinho e o Capitão Furtado para estrear nos Diários e Emissoras Associados (Grupo do qual fazia parte a Rádio Tupi e, a partir de 1950, também a TV Tupi) a "Trinca do Bom Humor".
Em novembro de 1936, seguiram para Buenos Aires, onde se apresentaram no Teatro Smart. O sucesso "Nóis em Buenos Ayres" retrata com muito bom humor como foi a viagem, os enjôos no navio, os passeios de metrô, etc.
Em 1937, no auge do sucesso, passaram a fazer parte do elenco do famoso Cassino da Urca, onde trabalharam até seu fechamento, em 1946, por Eurico Gaspar Dutra.
No Casino da Urca, Alvarenga e Ranchinho começaram a fazer suas sátiras políticas, as quais se tornaram um de seus pontos fortes. O público se divertia e o Governo... sentia-se incomodado na maioria das vezes, com as críticas musicais que eram cada vez mais o forte de suas apresentações.
O visual da dupla consistia nos trajes caipiras: camisa xadez, chapéu de palha de aba curta, e botas de cano curto.
Em 1938, lançaram a marcha "Seu Condutor" (em parceria com Herivelto Martins), que foi o maior sucesso carnavalesco da dupla.
E, nesse mesmo ano de 1938, Ranchinho afastou-se pela primeira vez da dupla. E Alvarenga, passou a cantar em dupla com Bentinho e também com o grupo que intitulou "Alvarenga e Sua Gente".
Apesar do pouco tempo de duração, a dupla "Alvarenga e Bentinho" chegou a gravar alguns Discos 78 rpm pela Odeon e, tal foi a amizade surgida entre os dois parceiros que, a convite de Alvarenga, Bentinho foi padrinho de batismo do seu filho, o Delmare Alvarenga, que é atualmente um dos mais conceituados maestros e é regente da Orquestra Sinfônica da Ópera de Colônia (Köln) na Alemanha.
Em 1939, Ranchinho voltou a formar dupla com Alvarenga. E Bentinho formou juntamente com Xerém a dupla Xerém e Bentinho.
Essa separação temporária de Ranchinho da dupla com Alvarenga voltou a ocorrer diversas vezes nos 27 anos seguintes e, nessas ocasiões, ele sempre foi substituído por outros parceiros, como Bentinho e Delamare de Abreu, esse último, como o segundo Ranchinho, sendo que a dupla mantinha o mesmo nome.
Em 1939, Ranchinho voltou a integrar a dupla com Murilo Alvarenga e novas gravações foram feitas pela Odeon, algumas inclusive juntamente com o Capitão Furtado.
E, em conseqüência de suas sátiras políticas, Alvarenga e Ranchinho vinham tendo cada vez mais problemas com a Censura Oficial; mas em 19/04/1939, dia do aniversário de Getúlio Vargas, a questão foi finalmente resolvida: Alzira Vargas, filha do então Presidente da República, convidou a dupla para tocar todo o seu repertório de sátiras no Palácio do Catete para seu pai. O "Baixinho" (como era chamado pela dupla), após ouvir todas as músicas, inclusive algumas que se referiam a ele, acabou gostando e deu ordens para que as composições de Alvarenga e Ranchinho fossem liberadas em todo o Território Nacional. E, para Ranchinho, de um certo modo, parecia que sem censura, havia perdido a graça falar do Getúlio...
Também em 1939, Alvarenga e Ranchinho fizeram uma turnê pelo Rio Grande Sul. E, ainda nesse mesmo ano, passaram a se apresentar na Rádio Mayrink Veiga, onde receberam o título de "Os Milionários do Riso", graças aos cada vez mais bem sucedidos esquetes cômicos.
Em 1940, gravaram pela Odeon um de seus maiores sucessos, "Romance de uma Caveira".
Em 1949, gravaram "Drama da Angélica" intitulada de "canto tétrico", uma composição onde todos os versos terminam com palavras proparoxítonas.
Em 1950, foram a Portugal e se apresentaram no Cassino Estoril, próximo a Lisboa. Em 1955, participaram do filme "Carnaval em Lá Maior", de Ademar Gonzaga.
Fizeram também campanhas políticas para Juscelino Kubitscheck de Oliveira e Ademar de Barros. JK, por sinal, amante da boa música brasileira também apreciava o trabalho de Alvarenga e Ranchinho e foi dos pouquíssimos políticos "poupados das sátiras" feitas pela dupla. Fizeram célebres paródias de músicas conhecidas tais como "Nervos de Aço" (Lupicínio Rodrigues), "Adios Muchacho" (Júlio Sanders e César Vendani), e "Disparada" (Geraldo Vandré e Téo de Barros).
Em 1965, Diésis dos Anjos abandonou mais uma vez a dupla e acabou por ser substituído por Homero de Souza Campos (1930-1997), que passou a ser o novo Ranchinho.
A partir dos anos 70 Alvarenga e Ranchinho deixaram o Rádio e passaram a se apresentar esporadicamente em alguns programas de TV e a quase totalidade da atividade artística passou a ser as turnês pelo interior, até o falecimento de Murilo Alvarenga em 1978.
O último disco da dupla foi "Os Milionários do Riso" gravado em 1973 pela RCA.
Os três "Ranchinho" estiveram presentes no velório de Murilo Alvarenga em Janeiro de 1978 e, inconsolável, Diésis declarava que haviam combinado de refazer a dupla, poucos dias antes da morte do parceiro.
Problemas pulmonares levaram Ranchinho deste mundo em 05 de julho de 1991.
E, no dia 31 de julho de 1997, faleceu, também vítima de câncer no pulmão, o "Ranchinho II", Homero de Sousa Campos.

Texto: Sandra Cristina Peripato
Discografia e Fotos: Site Recanto Caipira

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